quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Liturgia Anglicana em fotos comentadas

 

Ninguém consegue compreender a fé, teologia e espiritualidade anglicana sem conhecer e participar da Liturgia. Esse é o sentido do lema “lex orandi lex credendi“, que nos faz compreender que a fé se expressa no ato litúrgico – o modo como oramos, cantamos e louvamos expressa a fé que cremos.

Para aprofundar nosso conhecimento e compreensão da liturgia anglicana, aproveitamos neste post algumas fotos da Sagração do novo bispo da Diocese Anglicana de São Paulo (Dom Flávio Irala), no sábado 14/09.
Não é possível comentar todos os aspectos simbólicos do ritual, pois muitos ensinos são transmitidos oralmente e não por escrito. É preciso ter percepção para penetrar na força dos símbolos, no colorido das vestes, nas posturas e gestos. Tudo, absolutamente tudo, tem um significado:

Assembléia Litúrgica – O povo de Deus reunido: A liturgia é ação conjunta. O celebrante sempre é Jesus Cristo. Cristo é quem celebra eternamente no altar celestial. A Igreja, povo sacramental de Cristo, celebra no poder do Espírito Santo, em meio ao nosso mundo, expressando gestualmente (em palavras, cânticos, orações, gestos, etc) o mistério da Salvação. Desse modo, a liturgia sempre é ato do povo de Deus reunido, com Cristo, no poder do Espírito Santo, cf reafirmamos no LOC (Livro de Oração Comum): “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. As fotos abaixo são de uma sagração episcopal, mas esses mesmos elementos são celebrados em qualquer Capela, por menor que seja:

Tudo começa com o povo reunido. O vitral atrás do altar tem grande simbolismo. Observe a quantidade de triângulos (.’.)  e no centro, posiciona-se uma Cátedra para o Bispo que presidirá a Liturgia. Quando não há bispo presente e a liturgia é presidida por um padre, este não ocupa a Cátedra, mas posiciona-se, preferencialmente em uma das estalas (bancos laterais).

O clero posiciona-se para o Processional de entrada. As estolas vermelhas são utilizadas em cultos de ordenação, sagração, confirmação, visitas episcopais, festas do Espírito Santo e da Igreja. O vermelho lembra o fogo do Espírito Santo e o sangue dos mártires. Ao longo do ano e em diferentes festas, outras cores são utilizadas.

Observe que há clérigos com estolas transversais que pendem do ombro esquerdo (diáconos) e outros/as (presbíteros/as, padres) com estolas que pendem da nuca. Estolas representam, entre outras coisas, compromisso e o jugo de Cristo. 

As vestes são utilizadas exclusivamente nos momentos litúrgicos e seu simbolismo nos remete ao Antigo Testamento. Êxodo 28  fala em túnicas, estolas, sobrepelizes e cíngulos muito semelhantes a esses que usamos na Igreja, e a descrição é bem precisa, como se um estilista estivesse detalhando a largura certa das ombreiras, a cor das vestes, o tecido e outros materiais usados, a localização exata dos símbolos, etc.

O peitoral simboliza o julgamento divino e é uma lembrança de que Deus é nosso juiz maior. As estolas representam a consagração a Deus. Sempre que colocamos a estola antes de iniciar o culto, lembramos que, a partir daquele momento estamos nos anulando totalmente para o serviço divino. O “manto” seria semelhante a uma “casula” e simbolizava a proteção sacerdotal diante do Senhor. Tudo isso servia também para separar as vestes íntimas, diretamente ligadas ao corpo, de qualquer contato com os elementos usados no sacrifício. A palavra usada para “cinto” o equivalente ao nosso “cíngulo” aparece em textos sacerdotais sem maiores explicações. No entanto o sinônimo usado por em Isaías 11:5 permite entender que o sentido do cinto era ser símbolo de justiça e fidelidade.

O clero está com camisas clericais por baixo (o colarinho também tem muito sentido espiritual: Indica de quem somos servos, a quem nos dedicamos e por quem fomos chamados. Os escravos costumavam carregar uma correia, uma cólera, uma argola – às vezes de ferro – no pescoço. Era o sinal de que pertenciam a alguém e que seu trabalho era servir.  O colarinho mostra que nosso papel é servir, indica para o povo que somos servos do Deus vivo! A garganta envolvida é também a lembrança de que devemos falar e proclamar as Boas Novas de Deus; é lembrança de que podemos e devemos ser voz de quem não tem; é alerta para que não fiquemos mudos, não nos acovardemos, não admitamos ser calados, especialmente diante de argumentos incoerentes ou da fraqueza de algum opressor. O colarinho é para que não tenhamos medo de soltar a voz sufocada em nosso peito;

Bispos usam vestes diferenciadas que simbolizam seu ofício: colarinho, alva (batina), chamarra, capa e mitra. Uma sagração episcopal na tradição anglicana só é válida se for compartilhada por, no mínimo três bispos diocesanos que expressam a comunhão do Corpo de Cristo (“Católico-Universal) transmitindo, em nome da totalidade da Igreja a sucessão apostólica e representando o reconhecimento do ministério episcopal do novo bispo, por parte de outras dioceses:


Todo esse simbolismo  não é apenas decorativo. Faz parte do culto, como expressão “muda” de adoração. Tudo tem um significado que é esclarecido aos poucos, na medida em que participamos, nos interessamos e nos envolvemos com os mistérios da liturgia; tudo na liturgia está envolto em um mistério que vai sendo percebido aos poucos e não adianta nos apressarmos no imediatismo de compreender tudo. Leva-se tempo para compreender certas peculiaridades da liturgia. Tudo faz parte de um caminhar, de um processo.

Alguns bispos presentes à Sagração do novo bispo (Dom Almir dos Santos com a cruz própria da Ordem de São Tiago, ost; Dom Naudal Gomes e Dom Humberto Maiztegui, representando respectivamente, o reconhecimento do povo das Dioceses Anglicanas de Curitiba e Meridional (região de Porto Alegre e Santa Catarina). Observe que a mitra não é utilizada em todos os momentos da Liturgia.

O simbolismo não diz respeito apenas aos clérigos, mas a todos, porque todos somos povo sacerdotal. As vestes clericais simbolizam e expressam éo sacerdócio de Cristo e de toda a Igreja e espelha o que cada um de nós deve visualizar. espiritualmente, em si mesmo.


A cerimônia é presidida pelo Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Dom Maurício de Andrade. O cargo de bispo Primaz é rotativo. É ocupado sempre por um bispo diocesano escolhido por votação de bispos, clérigos e leigos presentes aos Sínodos que se reúnem de 4 em 4 anos. O bispo Primaz é a representação visível da totalidade da Igreja no Brasil.

 




O novo bispo a ser sagrado veste apenas a alva, pois será revestido dos símbolos de sua ordem no momento litúrgico oportuno. A alva lembra as vestes brancas do povo de Deus no Apocalipse; é veste batismal, pois qualquer ordenação ou sagração sempre é derivação do Rito  Batismal. Desse modo qualquer estola que venha a ser sobreposta (de ministro-leigo, diácono ou chamarras episcopais) sempre é um símbolo de compromisso agregado ao Batismo. A alva lembra que o ministério é de todos os cristãos e cristãs. Estar apenas com a alva no início da liturgia faz com que todo povo presente relembre seu próprio batismo e sua participação no ministério apostólico:


A família do novo bispo (Rose, Wilson,  Gabriel e Beatriz participa com o povo):


O clero adentra o santuário, cantando um hino junto com o povo. O processional de entrada também remete ao Antigo Testamento (Salmos de peregrinação, a caminhada do povo de Deus pelo deserto rumo à terra prometida – altar, etc). Todos se dirigem ao altar que é o “oriente geográfico”  do Templo. A cruz processional remete, entre outras coisas ao texto:”toma a tua cruz e segue-me”
  
e todos se curvam, em reverência, perante o altar, em anúncio proléptico de que “todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor”
Lideranças leigas da Diocese anunciam a Intenção do Rito, assegurando a legitimidade da eleição e da sagração. Esse momento é muito importante, pois toda teologia sacramental sustenta-se na tríade “matéria, forma e intenção”:
   
Após os ritos iniciais inicia-se a Liturgia da Palavra, com leituras bíblicas, Salmo e o Processional para a Proclamação do Evangelho, sempre lido no centro da comunidade. O evangelho sai do Oriente (altar) rumo ao Ocidente (nave do templo), lembrando a presença de Cristo em meio ao povo e sua proclamação é feita por um diácono (estola transversal)
 
 
 
Sermão proferido pelo Bispo Humberto Maiztegui:
 

Após o Sermão, Credo e Orações, o Bispo Primaz inicia o exame do futuro bispo, que reafirma seus votos na presença do povo e dos demais bispos presentes:


 
 
Após os votos e orações, todos os bispos presentes (agora com a mitra que simboliza a autoridade de Cristo conferida à Igreja) unem-se para invocar o Espírito Santo e transmitir, mediante a imposição de mãos, os ofícios próprios do ministério episcopal:
 
 

O novo bispo é apresentado ao seu novo rebanho e recebe os cumprimentos do bispo sênior (mais antigo), Dom Almir dos Santos:
 
O novo bispo recebe, publicamente, os símbolos de sua ordem, revestidos por familiares e lideranças leigas da Diocese:
 
 
 
Devidamente paramentado, o novo bispo é empossado pelo Bispo Primaz como legítmo pastor da Diocese Anglicana de São Paulo:
 
 

e recebe o báculo (cajado) pastoral entregue pelo clérigo sênior (Rev. Eric Mercer) e o Sr. Tomio Ishikura (2o. guardião da Paróquia do Cristo Rei – Registro,SP) que restaurou o cajado diocesano

 
e cumprimentos:
 
e preside a primeira Eucaristia como bispo diocesano:
 
 

acompanhado pelo clero em oração e convidados ecumênicos

 
 

O corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo são oferecidos ao povo:

 

e todos comungam:

 
 
 

O Secretário-Geral da IEAB, Rev. Arthur Cavalcanti, lê publicamente o documento oficial de Sagração Episcopal, e o novo bispo faz seus agradecimentos

 

O bispo sênior, Dom Almir dos Santos, ost (Ordem de São Tiago), saúda o novo bispo em nome da Câmara dos Bispos e o acolhe com o abraço e o ósculo da paz

 

O diácono anuncia o término da liturgia com as palavras da despedida e envio:

 

Bispos prsentes à sagração na foto oficial:

 

foto com a família

 

e a comunhão se estende no coquetel de recepção, com direito a champanhe, vinho e alegria:

 
 
(e um susto da Rose Irala…)
Fotos de Nina Boe (outras fotos no álbum):  

Alguns posts e páginas de nosso site apresentam alguns princípios gerais da liturgia anglicana. Quem desejar pesquisar mais, pode consultar os post:

“Nossa forma de adorar a Deus” :http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12365

“Uma Igreja Católica e Reformada”: http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12341

E o item 3 do post “Perguntas e Respostas diretas sobre a Igreja Anglicana:”, onde você encontra alguns vídeos com orações eucarísticas:
http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12392