Ninguém consegue compreender a fé,
teologia e espiritualidade anglicana sem conhecer e participar da
Liturgia. Esse é o sentido do lema “lex orandi lex credendi“,
que nos faz compreender que a fé se expressa no ato litúrgico – o modo
como oramos, cantamos e louvamos expressa a fé que cremos.
Para aprofundar nosso conhecimento e
compreensão da liturgia anglicana, aproveitamos neste post algumas fotos
da Sagração do novo bispo da Diocese Anglicana de São Paulo (Dom Flávio
Irala), no sábado 14/09.
Não é possível comentar todos os
aspectos simbólicos do ritual, pois muitos ensinos são transmitidos
oralmente e não por escrito. É preciso ter percepção para penetrar na
força dos símbolos, no colorido das vestes, nas posturas e gestos. Tudo,
absolutamente tudo, tem um significado:
Assembléia Litúrgica – O povo de Deus reunido: A liturgia é ação conjunta. O celebrante sempre é Jesus Cristo.
Cristo é quem celebra eternamente no altar celestial. A Igreja, povo
sacramental de Cristo, celebra no poder do Espírito Santo, em meio ao
nosso mundo, expressando gestualmente (em palavras, cânticos, orações,
gestos, etc) o mistério da Salvação. Desse modo, a liturgia sempre é ato
do povo de Deus reunido, com Cristo, no poder do Espírito Santo, cf
reafirmamos no LOC (Livro de Oração Comum): “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. As fotos abaixo são de uma sagração episcopal, mas esses mesmos elementos são celebrados em qualquer Capela, por menor que seja:
Tudo começa com o povo reunido. O vitral atrás
do altar tem grande simbolismo. Observe a quantidade de triângulos
(.’.) e no centro, posiciona-se uma Cátedra para o Bispo que presidirá a
Liturgia. Quando não há bispo presente e a liturgia é presidida por um
padre, este não ocupa a Cátedra, mas posiciona-se, preferencialmente em
uma das estalas (bancos laterais).
O clero posiciona-se para o Processional de entrada. As estolas vermelhas são
utilizadas em cultos de ordenação, sagração, confirmação, visitas
episcopais, festas do Espírito Santo e da Igreja. O vermelho lembra o
fogo do Espírito Santo e o sangue dos mártires. Ao longo do ano e em
diferentes festas, outras cores são utilizadas.
Observe que há clérigos com estolas transversais que pendem do ombro esquerdo (diáconos) e outros/as (presbíteros/as, padres) com estolas que pendem da nuca. Estolas representam, entre outras coisas, compromisso e o jugo de Cristo.
As vestes são utilizadas exclusivamente nos momentos litúrgicos e seu simbolismo nos remete ao Antigo Testamento. Êxodo 28 fala
em túnicas, estolas, sobrepelizes e cíngulos muito semelhantes a esses
que usamos na Igreja, e a descrição é bem precisa, como se um estilista
estivesse detalhando a largura certa das ombreiras, a cor das vestes, o
tecido e outros materiais usados, a localização exata dos símbolos, etc.
O peitoral simboliza o julgamento divino
e é uma lembrança de que Deus é nosso juiz maior. As estolas
representam a consagração a Deus. Sempre que colocamos a estola antes de
iniciar o culto, lembramos que, a partir daquele momento estamos nos
anulando totalmente para o serviço divino. O “manto” seria semelhante a
uma “casula” e simbolizava a proteção sacerdotal diante do Senhor. Tudo
isso servia também para separar as vestes íntimas, diretamente ligadas
ao corpo, de qualquer contato com os elementos usados no sacrifício. A
palavra usada para “cinto” o equivalente ao nosso “cíngulo” aparece em
textos sacerdotais sem maiores explicações. No entanto o sinônimo usado
por em Isaías 11:5 permite entender que o sentido do cinto era ser
símbolo de justiça e fidelidade.
O clero está com camisas clericais por baixo (o colarinho também tem muito sentido espiritual: Indica
de quem somos servos, a quem nos dedicamos e por quem fomos chamados.
Os escravos costumavam carregar uma correia, uma cólera, uma argola – às
vezes de ferro – no pescoço. Era o sinal de que pertenciam a alguém e
que seu trabalho era servir. O colarinho mostra que nosso papel é servir, indica para o povo que somos servos do Deus vivo! A garganta envolvida
é também a lembrança de que devemos falar e proclamar as Boas Novas de
Deus; é lembrança de que podemos e devemos ser voz de quem não tem; é
alerta para que não fiquemos mudos, não nos acovardemos, não admitamos
ser calados, especialmente diante de argumentos incoerentes ou da
fraqueza de algum opressor. O colarinho é para que não tenhamos medo de soltar a voz sufocada em nosso peito;
Bispos usam vestes diferenciadas que simbolizam seu ofício: colarinho, alva (batina), chamarra, capa e mitra.
Uma sagração episcopal na tradição anglicana só é válida se for
compartilhada por, no mínimo três bispos diocesanos que expressam a
comunhão do Corpo de Cristo (“Católico-Universal) transmitindo, em nome
da totalidade da Igreja a sucessão apostólica e representando o
reconhecimento do ministério episcopal do novo bispo, por parte de
outras dioceses:
Todo esse simbolismo não é apenas decorativo.
Faz parte do culto, como expressão “muda” de adoração. Tudo tem um
significado que é esclarecido aos poucos, na medida em que participamos,
nos interessamos e nos envolvemos com os mistérios da liturgia; tudo na
liturgia está envolto em um mistério que vai sendo percebido aos poucos
e não adianta nos apressarmos no imediatismo de compreender tudo.
Leva-se tempo para compreender certas peculiaridades da liturgia. Tudo
faz parte de um caminhar, de um processo.
Alguns bispos presentes à Sagração do
novo bispo (Dom Almir dos Santos com a cruz própria da Ordem de São
Tiago, ost; Dom Naudal Gomes e Dom Humberto Maiztegui, representando
respectivamente, o reconhecimento do povo das Dioceses Anglicanas de
Curitiba e Meridional (região de Porto Alegre e Santa Catarina). Observe que a mitra não é utilizada em todos os momentos da Liturgia.
O simbolismo não diz respeito apenas aos
clérigos, mas a todos, porque todos somos povo sacerdotal. As vestes
clericais simbolizam e expressam éo sacerdócio de Cristo e de toda a
Igreja e espelha o que cada um de nós deve visualizar.
espiritualmente, em si mesmo.
A cerimônia é presidida pelo Bispo Primaz
da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Dom Maurício de Andrade. O
cargo de bispo Primaz é rotativo. É ocupado sempre por um
bispo diocesano escolhido por votação de bispos, clérigos e leigos
presentes aos Sínodos que se reúnem de 4 em 4 anos. O bispo Primaz é a
representação visível da totalidade da Igreja no Brasil.
O novo bispo a ser sagrado veste apenas a alva,
pois será revestido dos símbolos de sua ordem no momento litúrgico
oportuno. A alva lembra as vestes brancas do povo de Deus no Apocalipse;
é veste batismal, pois qualquer ordenação ou sagração
sempre é derivação do Rito Batismal. Desse modo qualquer estola que
venha a ser sobreposta (de ministro-leigo, diácono ou chamarras
episcopais) sempre é um símbolo de compromisso agregado ao Batismo. A
alva lembra que o ministério é de todos os cristãos e cristãs. Estar
apenas com a alva no início da liturgia faz com que todo povo presente
relembre seu próprio batismo e sua participação no ministério
apostólico:
A família do novo bispo (Rose, Wilson, Gabriel e Beatriz participa com o povo):
O clero
adentra o santuário, cantando um hino junto com o povo. O processional
de entrada também remete ao Antigo Testamento (Salmos de peregrinação, a
caminhada do povo de Deus pelo deserto rumo à terra prometida – altar,
etc). Todos se dirigem ao altar que é o “oriente geográfico” do Templo.
A cruz processional remete, entre outras coisas ao texto:”toma a tua cruz e segue-me”
e todos se
curvam, em reverência, perante o altar, em anúncio proléptico de que
“todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o
Senhor”
Lideranças leigas da Diocese anunciam a Intenção do Rito,
assegurando a legitimidade da eleição e da sagração. Esse momento é
muito importante, pois toda teologia sacramental sustenta-se na tríade
“matéria, forma e intenção”:
Após os ritos iniciais inicia-se a Liturgia da Palavra, com leituras bíblicas, Salmo e o Processional para a Proclamação do Evangelho,
sempre lido no centro da comunidade. O evangelho sai do Oriente (altar)
rumo ao Ocidente (nave do templo), lembrando a presença de Cristo em
meio ao povo e sua proclamação é feita por um diácono (estola
transversal)
Sermão proferido pelo Bispo Humberto Maiztegui:
Após o
Sermão, Credo e Orações, o Bispo Primaz inicia o exame do futuro bispo,
que reafirma seus votos na presença do povo e dos demais bispos
presentes:
Após os votos e orações, todos os bispos presentes (agora com a mitra que simboliza a autoridade de Cristo conferida à Igreja) unem-se para invocar o Espírito Santo e transmitir, mediante a imposição de mãos, os ofícios próprios do ministério episcopal:
O novo bispo é apresentado ao seu novo rebanho e recebe os cumprimentos do bispo sênior (mais antigo), Dom Almir dos Santos:
O novo bispo recebe, publicamente, os símbolos de sua ordem, revestidos por familiares e lideranças leigas da Diocese:
Devidamente paramentado, o novo bispo é empossado pelo Bispo Primaz como legítmo pastor da Diocese Anglicana de São Paulo:
e recebe o báculo (cajado) pastoral
entregue pelo clérigo sênior (Rev. Eric Mercer) e o Sr. Tomio Ishikura
(2o. guardião da Paróquia do Cristo Rei – Registro,SP) que restaurou o
cajado diocesano
e cumprimentos:
e preside a primeira Eucaristia como bispo diocesano:
acompanhado pelo clero em oração e convidados ecumênicos
O corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo são oferecidos ao povo:
e todos comungam:
O
Secretário-Geral da IEAB, Rev. Arthur Cavalcanti, lê publicamente o
documento oficial de Sagração Episcopal, e o novo bispo faz seus
agradecimentos
O bispo
sênior, Dom Almir dos Santos, ost (Ordem de São Tiago), saúda o novo
bispo em nome da Câmara dos Bispos e o acolhe com o abraço e o ósculo da
paz
O diácono anuncia o término da liturgia com as palavras da despedida e envio:
Bispos prsentes à sagração na foto oficial:
foto com a família
e a comunhão se estende no coquetel de recepção, com direito a champanhe, vinho e alegria:
(e um susto da Rose Irala…)
Fotos de Nina Boe (outras fotos no álbum):
Alguns posts e páginas de nosso site apresentam alguns princípios gerais da liturgia anglicana. Quem desejar pesquisar mais, pode consultar os post:
“Nossa forma de adorar a Deus” :http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12365
“Uma Igreja Católica e Reformada”: http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12341
E o item 3 do post “Perguntas e
Respostas diretas sobre a Igreja Anglicana:”, onde você encontra alguns
vídeos com orações eucarísticas:
http://www.paroquiadainclusao.com/site/?page_id=12392
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